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COLUNA DO PUTIU


O CAPELÃO DAS ESTRELAS


Quem é do meu tempo – décadas de 1950 a meados da de 1970 – e protagonista de narrativas ambientadas no Putiú não deve ter esquecido o Oratório Festivo Dom Bosco, instrumento vinculado à Congregação Salesiana de Baturité e direcionada à formação de pré-adolescentes de famílias de baixa renda, com ações em parceria com a edilidade baturiteense.


Tenho quase certeza de que sua origem resultou de condição imposta pelo Comendador Ananias Arruda, principal fomentador da presença dos filhos de Dom Bosco em Baturité, incluindo a doação do terreno para a construção e funcionamento dos equipamentos necessários às atividades educacionais e religiosas, área que se estendia entre a via de acesso ao centro da cidade e as margens do rio Putiú, avançando até a ponte; bananeiral e canavial davam vida verde àquela faixa de terra).


Entre a edificação (porta de acesso em frente ao portão estreito do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora - INSA), com área de recepção, cerca de cinco salas de aula justapostas, longo e largo corredor, sala de direção, pátio coberto e banheiros, e o planalto onde sediados o colégio e a igreja, havia um bom campo de futebol, com três opções de uso: o de tamanho oficial e dois menores, em cada metade do maior. Limitavam-no, de um lado, um longo muro de alvenaria, e, do outro, um mangueiral.

Já à época do encerramento das atividades escolares, restando apenas as festivas nas manhãs de domingo, o responsável pelo Oratório era o Padre Manoel. Com físico atarracado envolvido em batina de cor bege e rosto desprovido de sorrisos, o velho sacerdote era professor de Geografia nos anos terminais do primário (diziam que ele detinha um bom conhecimento da matéria, mas pecava muito na didática) e metido a astrônomo. No seu quarto, nos fundos da igreja de São Domingos Sávio (hoje dedicada aos Arcanjos), entre o térreo e o andar do dormitório dos internos maiores, havia uma parafernália por ele usada nas viagens noturnas pelas estrelas; as lunetas, ele mesmo as produzia, à base de lentes de óculos de grau (com alunos internos na condição de principais fornecedores).


Padre Manoel foi, por longo período, o capelão responsável pelas atividades religiosas da capela (agora igreja e sede de paróquia) de Cristo Redentor, em convênio tácito com a freguesia de Nossa Senhora da Palma, com administração então confiada a Luiz Felício de Holanda (ou simplesmente seu Holanda), aposentado da Usina Putiú, e zeladoria a cargo do casal Doninha e Altino, residentes em casa simples na antiga Feira do Gado, próxima à do Ornilo e à do Zé Olavo do Paulão.   

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