top of page

COLUNA DO PUTIU


SIMPLICIDADE E ESTRATÉGIA


Na tarde deste domingo, lembrei-me de Osnilo. E o que me fez lembrar tão significativa figura no álbum do futebol putiuense? Explico.


Assistia pela ESPN à final da Supercopa da Espanha, levada para Riad, a capital da Arábia Saudita, por quem detém cacife mais que suficiente para promover todo e qualquer tipo de evento de altíssimo nível, de cunho internacional, até porque banca com petrodólares ou petroeuros, tanto faz.

O jogo envolvia duas equipes de ponta no cenário esportivo mundial – Real Madri e Barcelona –, que acabou vencido pelos merengues, com gols de Vini Jr. e Rodrygo, ou seja, efetiva participação de brasileiros.

E o Vinícius foi escolhido o melhor em campo.

Ainda nos resta algum protagonismo no teatro das emoções, em cenários mirabolantes construídos pelos novos apaixonados pelo futebol, que investem alto para o melhor dele usufruir. Tudo bem.


Mas o que me chamou a atenção foi o gol de honra do Barcelona – na verdade, um golaço –, marcado por Lewandowski (nada a ver com o ex-ministro do STF e futuro ministro da Justiça do governo Lula), num chute de primeira, primoroso, aproveitando rebote da defesa do Real, o que dava uma sobrevida ao time catalão.

É aí que entra o Osnilo, não como Pilatos entrou no Credo, porque, no caso concreto, por mérito.


Na simplicidade, um dos bons ingredientes de composição do seu perfil, o treinador do Putiú nos ensinava coisas que só algum tempo depois admitíamos a validade na prática.

Quando o zagueiro do bom e bem dirigido time madrilenho cortou no alto, de cabeça, o cruzamento nas proximidades do gol, não agiu, no entender do bom treinador do Putiú Esporte Clube, de camisas tricolores em padrão Ferrim, como devia, ou seja, “zagueiro não pode, em situação de ataque do adversário, cabecear para a frente, para a entrada da área; tem de ser para escanteio ou para a lateral”. E a tarefa do goleador se restringiu a acertar o chute no gol (lógico que tem de ser bom nisso). E ele é, tanto que isso aconteceu.


Entre outras orientações do bom Osnilo que ainda dormitam na minha encarquilhada memória, pelo menos três jamais se esvanecerão pela janela do esquecimento.


Uma delas. “Lateral que marca ponta ágil e veloz, não deve deixar que a bola chegue até ele – tem de antecipar; se a bola chegar, não pode deixar que ele se vire com ela dominada – tem de travar e ganhar; se ele conseguir lançar a bola à frente para fazer valer a velocidade, não pode deixar que avance – tem de matar a jogada, nem que precise cometer falta.” E o Pelezinho, hein? Ponta direita da seleção de Quixadá me obrigou a ser expulso – ele também foi – no primeiro lance de um jogo no Monte Mor, na primeira fase das eliminatórias de um Intermunicipal, já nem me recordo o ano.


Outra. “Matar a bola no peito significa ter o seu domínio. Ela tem de descer do peito para o chão, aos pés de quem dominou.” E aí quem ora povoa as minhas lembranças é o Codozinho, irmão de Bibi e Corró. Vergava-se para trás e fazia a criança dormir, agasalhada no magro peito. Era habilidade muita!


Mais outra. “Quem joga na defesa, jamais pode permitir que atacante suba sozinho para cabecear. Tem de subir com ele. Se não for para cortar, pelo menos para atrapalhar.” E o velho e bom Meneses, hein? Calçando chuteiras 44, pé de bater cal, já ameaçava o atacante no primeiro contato. Seguia à risca a orientação do treinador.

Prometo que, em outra ocasião, vou debruçar-me sobre as estratégias do bom Osnilo.

___________________________________

Luciano Moreira, baturiteense, ex-professor cenecista, servidor público federal aposentado e graduado em Letras – Português e Literaturas Brasileira e Portuguesa pela Universidade Federal do Ceará.

bottom of page