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COLUNA DO PUTIU


TRÊS CONTOS CURTOS & UMA PARÓDIA

1.     A  rosa e o cravo

A mãe, preocupada com a inesperada atitude da filha, indaga-lhe:

– Rosinha, minha filha, aonde você está indo? 

– Mãe, eu vou sair por aí... à procura da Vida...

– E, por acaso, você a perdeu?!

– Sim. Perdi.

– Quando, criatura?

– Quando eu desabrochei e o seu Cravo me despetalou.

– E você sabe onde isso aconteceu?

– Numa das curvas da minha vital estrada. 

  

2.     O tempo e suas circunstâncias

“– Foi o primeiro amor, um amor tão desesperado, quando ela me deixou, ai de mim, só não morri porque, aos 20, você não morre.” (Dalton Trevisan, em Pico na veia. Rio de Janeiro: Record, 2002. 77, pág. 91).

Cidade do interior. Folguedos juninos. Enamoraram-se. Tertúlias.

Festas natalinas. Ela sumiu, evaporou-se. Réveillon.

E a ampulheta da vida de ambos teve de ser virada incontáveis vezes. Sem que os dois sequer soubessem um do outro.

Cidade maravilhosa. Quarto de hotel cinco estrelas, de frente para Copacabana, a “princesinha do mar”.

Ele perdeu a noção do tempo.

A porta se abre.

Ele desperta assustado.

É a arrumadeira, sorridente em seu bem passado conjuntinho de blusa branca e saia azul, quem lhe deseja um bom dia e pede desculpas pelo incômodo.

Ora, não há de quê.

De repente, descobrem-se.

Atração. Anatomia. Movimentos.

E o que então se dá ali não cabe em simples palavras.

[Imaginem.

Presumam.

Inventem.

Infiram.

Criem.

Se possível, fazer algo parecido se permitam.

E, na prática, suas teorias confirmem.]

Afinal, o que amantes fazem entre quatro paredes, sob a proteção de aconchegantes lençóis, as roupas espalhadas pelo chão, sem pressão e sem pressa, somente a eles interessa.

3.     O petulante

– Por acaso, você sabe com quem está falando?!

– Por acaso, não!

– Pois eu vou reavivar a sua memória...

– Precisa não. Perdão! Eu já sei com quem estou falando...

– Ah, já sabe, né?!

– Sim. 

– E quem eu sou?!

– Você é, digamos assim, parente de algum político envolvido no Petrolão e que ainda não foi alcançado pela Lava-Jato.

– Por quê?!

– A gente sente o mau cheiro de longe...

– Ah, vá...!

– Esgoto ambulante!!!


A eleição

(Em ano de eleições, eu, um inconsequente e imperdoável mentecapto, parodio uma das reais canções: O PORTÃO, de Roberto e Erasmo Carlos)

Estacionei bem próximo à seção,

Um “santinho” me olhou pedindo...

Meu alter ego advertiu-me: Não!

Não votei!

Os políticos agiam como foram antes.

Em nada nenhum deles avançou.

Eu é que me desesperancei.

E não votei!

Não votei,

Pois nada vai mudar

porque, assim,

não cabe nem sonhar.

Não votei, 

pois em ninguém confiei...

Não votei!

Em chegando à urna pra votar,

senti-me ator em cena derradeira.

Com enfado, então desanimei...

Não votei!

Meu título já sem valimento,

meio desgastado a cada evento,

aceitou retomar o lugar de sempre;

lá o deixei.

Se sonhei, logo quis acordar,

porque senti:

aqui não vou ficar...

Não votei, 

pois em ninguém confiei.

Não votei!

Pode ser, depois de algum tempo,

se houver alguém que já mereça,

caso eu decida – acreditei!...

Votarei!

Ao pressentir quem venceria – é certo! –,

me agoniaram o espírito e a mente.

Só que a decepção eu arrostei...

Lamentei!

Não votei,

pois nada vai mudar,

porque, assim,

não cabe nem sonhar...

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