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COLUNA DO PUTIU


CONTO DE CARNAVAL: A Colombina de cetim quadriculado e orquídea rosácea


Pedro Kaio era filho de avó.

A orfandade precoce – os jovens pais perderam a vida em grave acidente automobilístico – interveio severamente no seu Destino quando ainda ensaiava os primeiros passos.

Estava circunstancialmente na casa da avó e ali agora permaneceria por muito tempo. Ela o acolheu num gesto essencialmente materno; dispôs-se a dar-lhe uma criação de mãe. Nada lhe faltou em qualquer dos aspectos. Além do desvelo e dos cuidados sempre recebidos no relacionamento familiar – com a quase sexagenária dona Dulce acumulando dedicadamente as funções de avó, avô, pai e mãe do neto, e ante a aceitação tácita e plena dos outros membros do grupo social sob seu natural comando –, no plano financeiro, os rendimentos a que ambos faziam jus na condição de pensionistas da previdência oficial compunham a fonte de recursos para cobrir os gastos incontornáveis. Todos muito simples. Viviam relativamente bem.

Pedrinho, como por todos era chamado, correspondia à dedicação da avó. Estudioso, cumpria com as obrigações de um bom aprendiz; respeitoso, não infringia quaisquer das regras de comportamento; e cordial, sabia manter e investir em relacionamentos interpessoais saudáveis; disso tudo resultava uma formação – necessariamente humana – que o capacitava a vencer na Vida.

Queria ser médico, para atuar na área da Neurologia. Queimou pestanas, virou noites sem dormir, renunciou a todos os atrativos e convites para gozar a juventude. Sofreu reveses em vestibulares, devido à concorrência. A avó não o deixava acabrunhar-se; estimulava-o sempre. E ele não fugia à luta, não abandonava o ringue, nem se deixava ir à lona. Entendia que devia, sim, aprofundar-se mais e mais nos estudos. Preocupava-se com o futuro, afinal a pensão deixada pelos pais em breve cessaria.

Por influência externa, redirecionou o foco: tornou-se concurseiro. Preparou-se para as oportunidades que o momento oferecia. Obteve aprovação em concorrido certame que lhe permitiu o ingresso em órgão público federal de primeira linha. Assumiu cargo técnico, com possibilidade de alcançar postos mais elevados.

Pedrinho logo percebeu que não havia nascido para ser médico. Tratava-se, segundo admitiu, de arroubos da juventude. Entrou no curso de Direito em universidade particular, de méritos já reconhecidos na área. Para cumprir a jornada diária, com o aval da avó, que ainda exercia forte ingerência em sua vida, adquiriu um Ônix prata, novo, com financiamento de banco do conglomerado a que também pertencia a montadora.

A vida prosseguia dentro da mais perfeita normalidade. Ele se prontificava a sempre atender as exigências que ela lhe impunha.

E aí veio o Carnaval.

No sábado gordo, à tarde, de sapatênis branco e meias soquete de igual cor, short preto e camisa de gola careca, de cor branca com listras verticais, estreitas e de cor preta, avisou a avó que ia assistir ao desfile dos tradicionais bloquinhos carnavalescos – de marchinhas, samba e pagode –, acalmando-a quanto a cuidar da sua integridade física, não cometer exageros, não se envolver em situações críticas, mas apenas divertir-se um pouco.

Logo estava em meio a um animado grupo de pessoas de fantasias simples, em pracinha à margem de avenida que já servia de passarela aos vários blocos de brincantes. Com estatura de jogador de basquete – até ensaiara, na adolescência, algumas participações nessa modalidade em eventos esportivos no colégio, mas acabara desistindo por não ter perfil para avançar como atleta de qualquer nível –, moveu-se em meio àquela divertida gente sem embaraços e sem dificuldade para acompanhar a festa que emprestava cor, brilho e muita alegria à via pública.

De repente, o belo moço se sentiu atraído por fulminante olhar feminino, instigante e insinuante. Percebeu ser ele o alvo. Retribuiu, em atitude reflexa, com intensidade. Enquanto isso, uma sensação estranha provocou-lhe rebuliços na alma e uma torrente de energia até então represada percorreu-lhe o corpo, causando-lhe o despertar de sentimento que até então dormitava – sem que lhe fosse dado intuir – no mais recôndito do ser. Em situações de igual jaez, o mais forte dos homens fragiliza-se e rende homenagens ao Amor.

Ao sentir do narrador, sempre atento aos mínimos detalhes que povoam a sua narrativa: macho e fêmea em pleno anseio do acasalamento, no emblemático jogo das preliminares.   

E o que Pedrinho viu? Um belo e vistoso exemplar de Colombina, de cabelos longos, lisos e alourados, com apreciável adorno de um par de pompons rubro-negros e, logo abaixo, presa à orelha, uma orquídea rosácea, irradiando feminilidade, sensualidade, romantismo, carinho e amor; um olhar de conquista e um sorriso sedutor; o rosto suavemente trigueiro e ora desprovido de maquiagem; estatura alta, aparentemente não muito inferior à sua; longa luva de cor vermelha em cada mão e braço; corpo bem delineado, certamente moldado em academia e ora envolvido em vestido de cetim branco com estampas em quadrículas pretas, realçando as sinuosidades do busto e costas; cós largo, em dobradura; saia curta, indo até cerca de um palmo dos joelhos, sobre calça “legging” de cores distintas para cada perna – uma branca e a outra preta –, acentuando as roliças coxas; e tênis preto de altura elevada, realçando as firmes panturrilhas. Uma bela e verdadeira personagem central da “commedia dell’arte” italiana.

E o que ele não viu? Nem o ingênuo e apaixonado Pierrot, nem o malandro brincalhão e espécie de conquistador Arlequim, personagens cujas existências no palco ou nas ruas giram em torno da deslumbrante Colombina. Não os viu porque, nesta comédia popular, de rua e sob marchinhas como trilha musical, eles não podiam coexistir, haja vista tratar-se do já tradicional Bloquinho d’Elas, a que, por código preestabelecido, só cabia acesso às damas e suas variações legitimamente reconhecidas. Cumpria, então, ao jovem principiante decidir que papel assumir, considerando, no caso, versos da marchinha Máscara Negra, na inconfundível voz do Zé Ketti: “Arlequim está chorando pelo amor de  Colombina / No meio da multidão. // (...) // Eu sou aquele Pierrot / Que te abraçou / Que te beijou, meu amor”.

O rapaz decidiu seguir o bloquinho, caminhando no andamento das suas evoluções, sempre animado pelo sorriso agora cativante da sua deusa, até juntos – ele pelas calçadas irregulares e malconservadas; ela pelo leito asfáltico da avenida – alcançarem a área de dispersão, onde e quando se aproximaram o mais que puderam, atraídos pelo que os poetas e românticos costumam rotular de “amor à primeira vista”.

E o vulcão de cada um entrou em erupção: caloroso aperto de mãos, afetuoso e longo abraço e sussurros só a ambos perceptíveis (a ninguém é dado avançar nessa seara).

A fala inaugural do colóquio, o autor da comédia – que, aos poucos, foi adquirindo contornos de drama – reservou à Colombina:

– Pra onde vamos?

– Pra onde você quiser! – Respondeu-lhe o Pierrot apaixonado.

– Voltemos à pracinha do nosso primeiro encontro, visual que tenha sido. Lá sempre tem muita animação. Gente bonita, alegre, feliz. – Ela propôs em tom romântico. Ele acolheu a sugestão com afirmativo e sutil meneio de cabeça, um leve sorriso e curta fala de confirmação de tudo isso:

– À pracinha!

De mãos dadas, desfilaram espargindo, em todo o trajeto, a felicidade de eternos enamorados e atraindo olhares de vários matizes: de encantamento, de inveja e até de concupiscência.

E alegremente conversaram, confiado ao rapaz o primeiro turno do diálogo:

– Mate-me a curiosidade: quem é você, ó angelical Colombina?

– Pras meninas do bloquinho, sou simplesmente Gaby. Meu nome é Gabrielly, com dois “eles” e “ípsilon” final. Meus pais são do interior. Moro aqui com dois irmãos: o Rafael e a Rafaelly, que preferiram passar o Carnaval com os velhos. Na condição de mais experiente do trio, sobrou pra mim a responsabilidade de guardiã do que aqui nos pertence. Eles se preparam para enfrentar o vestibular. Sou graduanda de Medicina Veterinária. Meu pai é Engenheiro Agrônomo, fazendeiro e comerciante. Minha mãe é Pedagoga e diretora de colégio do Estado. Bom, eis aí o meu currículo. E você quem é, ó divinal Pierrô, que ainda nem me beijou...?

–Não me faça perder o jeito... tudo a seu tempo. Nesta aventura, sou Pietro, com chapeuzinho no “o”, para bem marcar a variação do original Pierrot, com mudança de posição dos três fonemas finais: Pietrô! Brincadeira. Eu sou filho de avó! – Acentuou bem a frase. Ela sorriu, sem se conter:

– Como assim?!

– É que me tornei órfão de pai e mãe na mais tenra idade. Nunca entendi bem isso... a razão da tragédia que vitimou os dois, ainda tão jovens. Nada de lamentos. Não há como retroceder no tempo e modificar a minha trajetória de vida. O certo é que aqui estou, formando par com tão bela jovem... – Gabrielly, agora mais compenetrada, desculpou-se. O rapaz prosseguiu na mesma toada. – Fui criado pela minha avó materna, com quem convivo até hoje. A ela, devo tudo. A ela, tudo devoto. – Dirigiu um olhar afetuoso para a amada. – Ou melhor, agora quase tudo. Ela vai saber perder um pouquinho, se for para ganhar você. Chamo-me Pedro Kaio, com “k”, não sei o porquê. Todos me  chamam de Pedrinho, apesar do tamanho nada condizente. Sou servidor público federal e estudante de Direito. E ora estou apaixonado por você...


  1. DESFECHO MEIO-ROMÂNTICO

E um longo beijo, sob aplausos dos brincantes que prazerosamente assistiam à tão romântica cena, inaugurou a saudável relação que acabaria em união estável, sob a aprovação dos familiares e bênçãos divinas e humanas, conforme exigem as normas comportamentais vigentes e aplicáveis ao caso.

Já declarados marido e mulher, Pedro Kaio agasalhou nos braços – ali bem pertinho do coração, sede dos mais profundos e puros sentimentos – a sua bela amada Gabrielly, adentrou o aconchegante ninho de amor para os recém-casados especialmente preparado, beijou-a ternamente na face e nos olhos, deitando-a delicadamente no altar à Afrodite, a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade, promotora da alegria, do prazer e da perpetuação da vida. Os sedentos e saudáveis corpos se entrelaçaram, enquanto as joviais almas se deliciavam. Então o Filho do Homem disse: “Crescei e multiplicai-vos!”. E eles simplesmente obedeceram à ordem divina.   

Convém ressaltar que, antes disso, Pedrinho graduara-se em Direito, recebendo das trêmulas mãos da orgulhosa avó o diploma brilhantemente conquistado e assumindo o título de doutor Pedro Kaio. Gabrielly concluíra o curso de Medicina Veterinária, disposta a ir aplicar seu aprendizado na fazenda do pai. Pedro sofrera a profunda dor da perda da avó para um infarto fulminante; renunciara formalmente o direito a qualquer tipo de herança; exonerara-se do cargo público para assumir a Gerência da fazenda do sogro; e largara a cidade grande para morar no interior.

Pedro Kaio e Gabrielly encheram de netos a casa dos avós e foram felizes para sempre.


  1. DESFECHO QUASE-REALISTA

E um longo beijo, sob aplausos dos brincantes que prazerosamente assistiam à tão romântica cena, selou o relacionamento amoroso que, unindo dois belos exemplares da humanidade na Terra, prometia longevidade.

Na pracinha, já findo o desfile de blocos, com o véu da noite recobrindo todos os espaços, marcando com naturalidade o inexorável tempo e estimulando as celebrações amoráveis – de amor ou de amizade –, Pedrinho e Gabrielly se deixaram envolver pelo clima festivo então reinante, sob primoroso repertório de conjunto musical – de cordas e percussão – que se apresentava em palco improvisado. Ao redor do logradouro, permissionários vendiam água, sucos, refrigerantes, cervejas e sanduíches de todos os tipos.

Os dois jovens pularam, dançaram, divertiram-se e usufruíram ao máximo do improvável encontro que o Carnaval os presenteara. Namoraram em bancos da pracinha, trocaram juras de amor eterno e se permitiram adormecer de olhos abertos sob o reconfortante efeito de afagos e carícias e beijos em profusão.

Não perceberam que o tempo fluía normalmente. A madrugada ia se esvaindo. Já era quase manhã. A pracinha estava ficando deserta; algum risco corriam. Até o Carnaval carecia de descanso; só ao longe ouvia-se vestígios sonoros de músicas carnavalescas que se repetiam... se repetiam... se repetiam.

Gabrielly num rompante dispôs-se a retornar à sua morada. Pedrinho acalmou-a, ainda meio sonolento, esfregando os olhos com as costas dos indicadores:

– De forma alguma. Não vou deixar você sair por aí sozinha numa hora dessas.

– E eu faço o quê? Você pode me dizer, amor meu?

– Eu vou deixar você na sua casa. Nós vamos até aquela esquina... ali estacionei o meu carro. Aí você me dá as coordenadas de onde você mora e, prometo, logo estará dormindo em berço esplêndido... na sua cama de sonhos...

– E de pesadelos, também... – Ela complementou com um sorriso suave, com abertura dos lábios que não alcançaram sequer as comissuras da  boca.

E assim agiram. Curto foi o trajeto percorrido. A jovem e os irmãos dividiam apartamento em condomínio construído exclusivamente para estudantes vindos do interior, com alguns móveis reclináveis e beliche de base dupla e retrátil. O pai dela adquirira o imóvel quando ela veio enfrentar vestibulares.

Ao chegarem ao destino, o irrecusável convite:

 – Você  vai conhecer o meu apartamentinho. Deixa o carro estacionado aqui, em frente ao prédio. Garanto que ninguém vai mexer nele. O vigia do posto aí em frente ganha uma boa gorjeta para cuidar de nós. Os desvelos e exageros do meu pai. Eu passo um cafezinho na cara do freguês, para o nosso saboreio com fatias de bolo amanteigado. Não aceito desculpas, ouviu?!

 – Está certo. Quem sou eu pra descumprir as suas ordens? Ao café com bolo!

Enquanto ela desempenhava as funções de cozinheira, ele, já sentado à pequena mesa e recostado na parede à qual ela se reclinava quando sem uso, formulou uma questão que mexeu profundamente com os sentimentos da jovem, despertando nela a percepção de que ali se instalaria o sempre temido – e por ela estrategicamente evitado – divisor de águas:

– Gabrielly, perdoe-me. Há uma sensação que me incomoda muito e que ora me arrisco a conhecer as suas causas. – Ela, sem parar o que fazia, apenas o estimulou, com gestos e meneios, a prosseguir. – Você, por acaso, sofre de algum problema no aparelho fonador?

A jovem, agora deixando revelar um misto de surpresa e apreensão, questionou-o:

– Por que me pergunta isso, Pietrô?!

– É porque sua voz... como eu diria... há momentos... recorrentes até... em que a sua voz sofre variações incompatíveis... a meu sentir, obviamente... com a sua feminilidade corporal e atitudinal. Entendeu?

Em completo silêncio, compenetrada como se avaliasse a profundidade do questionamento do amado, das suas inevitáveis consequências, como se meditasse sobre a resposta que lhe daria, Gabrielly pôs a garrafa térmica sobre a mesa, serviu a si e a ele, cortou em fatias o bolo amanteigado, sentou-se calmamente à frente do rapaz, olhou-o profundamente nos olhos, sorveu um generoso gole de café, sentiu-o descer ardendo em todo o trajeto até o estômago, suportou tudo isso sem sequer pestanejar, deu um profundo suspiro, e falou com alguma ternura e desembaraço:

– Senhor Pedro Kaio, amor meu, espero que você me escute com a mesma lhaneza que até agora marcou o seu comportamento em relação a mim, a nós enfim. Depois, você estará livre para tomar a decisão que mais lhe aprouver.

– Senhora Gabrielly, prometo que serei o mesmo homem que adorou conhecê-la, que muito ganhou com a nossa até agora curta e rica convivência.

– Certo. Cedo ou tarde, a verdade afloraria. Meu nome oficial é Gabriel. Não sou a mulher que no curso dessa festiva noite povoou os seus românticos sonhos. Perdoe-me se o fiz pensar diferente; se o fiz acreditar nesses sonhos. Na verdade, não sofro de qualquer problema no aparelho fonador; a rigor, o meu problema é biológico e fisicamente se instala no sistema reprodutivo. Na minha condição, Pedrinho, sofro o que os puritanos e hipócritas costumam rotular de “desvio da Natureza” e, o pior, me culpam por isso. Eu me considero o resultado de uma terceira experiência divina que os livros sagrados não tiveram competência ou coragem para fazer o devido registro. Considero-me o segmento de um processo que se iniciou, lá nos princípios da Humanidade, envolvendo a costela de Adão; parte dela Deus envolveu em barro, deu-lhe o sopro da Vida e surgiu um ser híbrido, por assim dizer. Eu sou mulher ou alma feminina aprisionada num homem ou corpo masculino. E isso me custa caro... muito caro, amigo. Você não tem ideia de quanto sofro por isso. Avassala-me cotidianamente a dor na matéria, corpórea, se é que você me entende. Na alma, sou apenas o que realmente sou: uma mulher.

Calou-se, então, com o olhar fixo em algum ponto específico de uma das paredes internas do imóvel: um crucifixo encimando a porta de entrada do quarto. Esperou a reação de Pedro Kaio, que logo veio:

– Eu entendo você. E compreendo toda essa situação que a envolve. Apaixonei-me pelo seu jeito de ser. Aplaudo a sua resiliência. Acho, porém, que nada posso fazer de sorte a mitigar a sua dor. E essa coisa me deprime, me faz sentir impotente. Creia-me, por favor. Talvez coubesse um procedimento cirúrgico... talvez isso fosse o recomendável. Não sei se você se disporia a enfrentar, a se submeter a isso. 

Silêncio. Os dois jovens, cabisbaixos, talvez ora viajassem pela profundeza de suas respectivas almas à procura de uma solução que satisfizesse as expectativas de ambos.

De repente, Pedro Kaio levantou-se. Aproximou-se de Gabrielly, ela em pleno estado de languidez, de  abatimento, de quem acabara de sair de uma batalha. Beijou-lhe suavemente a testa, segurando carinhosamente o rosto com as mesmas mãos que antes o acariciaram. Ela não reagiu. Ele falou baixinho, quase sussurrando:

– Gabrielly, infelizmente neste momento reconheço-me incapaz de lhe oferecer qualquer tipo de apoio, de suporte. Perdoe-me, mas eu estou... nós estamos esgotados. Precisamos de recolhimento, de repouso, de recuperação de energias. Eu vou pra casa, tentar dormir. Recolha-se também, moça! Procure dormir. Prometo que quando a saudade apertar, virei ver você. Até mais.

Ele saiu calmamente. Ela não o acompanhou com o olhar. Quando ouviu o barulho do carro se indo, liberou as lágrimas até então contidas. Uma única palavra escapou pelos lábios feminis: Adeus!

Gabrielly guardou com carinho aquele encontro muito especial na gaveta da memória reservada às lembranças que se eternizam. Pedro Kaio, por sua vez, nunca sentiu saudade da Colombina de cetim quadriculado e orquídea rosácea.

Vida que segue.                    


Post Scriptum: Ao narrador, coube assumir a falha de não ter sabido encontrar um meio por onde “enfiar” no enredo um qualquer Arlequim. Prescientes leitoras e leitores, convenhamos: bem melhor assim.

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Luciano Moreira, baturiteense, ex-professor cenecista, servidor público federal aposentado e graduado em Letras – Português e Literaturas Brasileira e Portuguesa pela Universidade Federal do Ceará.

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