POR QUE “COLUNA DO PUTIÚ”?!
– Eu tinha sido servente de pedreiro com o mestre Josué (o das Lajes; responsável pela edificação da igreja do Rosário naquele bairro; pai do Flávio, o mais hábil e veloz ponta direita da minha época; e dono de irradiadora, a rádio dos sertões) na construção de casa de alvenaria à base de tijolo, cal batida e barro, à margem da rodovia ainda não asfaltada, no sítio Belém, logo depois da vacaria do pai do Paulo Preto (ponta esquerda) e Ari (goleiro), jogadores do Putiú, propriedade esta adquirida depois pelo bancário José Airles Lino Bastos.
O sítio pertencia aos salesianos e a casa serviria de moradia ao feitor (atual caseiro). Almoçava no local da obra, graças à madrinha Núbia, então esposa do meu pai, e ao Sérgio da dona Fransquinha e seu Zé Augusto, um molecote que, em lombo de jumento e cangalha não me lembro por quem cedidos, levava a comida em prato fundo coberto por outro de borco, ambos amarrados em pano de prato.
Com o dinheiro ganho, ajudei o meu pai a comprar livros, cadernos, caneta-tinteiro, fardas, sapatos e tênis, para a 8ª série ginasial no Colégio Salesiano. Logo que começou o ano letivo de 1968, primeiros dias de fevereiro, em plena “liseira”, percebi que precisava fazer alguma coisa que, sem atrapalhar os estudos, rendesse um ganho que, no mínimo me ajudasse a manter o vício do fumo, em estágio avançado.
O mestre Expedito, sem saber (ou sabendo, talvez) onde investiria tão sacrificados recursos, usou das suas influências, dos seus relacionamentos com quem detinha poder à época. E eu passei a trabalhar, às tardes, no jornal A Verdade, semanário católico do Comendador Ananias Arruda que me incentivou a escrever alguma coisa sobre a localidade onde eu morava. E a dona Rosinha, filha adotiva do patrão e sua secretária, propôs que eu produzisse uma coluna de notícias do meu bairro, sob o título Coluna do Putiú.
Confesso que não se tratava de tarefa assim tão fácil, pois quase nada acontecia que merecesse registro em jornal. Assim, eu dava os primeiros passos no jornalismo interiorano, sem o devido registro profissional em entidades que legitimassem tal atuação. Coisas do século passado.
Como é possível perceber, o título aqui por mim usado, resgata um pouco do nosso passado – meu e do velho Putiú, hoje com o casario subindo morro, invadindo várzeas, envolvendo-o em nova roupagem (No meu tempo, ele se vestia de verde!). Dessa forma, deixo claro que procurarei, aqui também, repercutir algumas vivências minhas, algumas reminiscências ainda incrustadas na já empoeirada memória e passíveis de recordação – algo que vem do coração –, todas tendo como espaço o meu querido Putiú, bairro em que “molequei”, adolesci, cresci e virei gente. A vida impôs-me o enfrentamento de outras plagas, mas as raízes lá ficaram.
Acerca do subtítulo – “Todo mundo canta a sua terra / Eu também vou cantar a minha" –, assinalo tratar-se de versos de música na voz de Alcione, cuja composição assinam João do Vale e Julinho.
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Luciano Moreira, baturiteense, ex-professor cenecista, servidor público federal aposentado e graduado em Letras – Português e Literaturas Brasileira e Portuguesa pela Universidade Federal do Ceará