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CONTOS QUE CONTO...

E ELE TAMBÉM ESTEVE NO MEIO DE NÓS


Conto narrado pelo putiuense

Luciano Moreira


Acabo de ser informado sobre sua passagem para o plano superior.

Hospitalizado há alguns dias, com graves problemas renais, cessam assim as suas dores. E ele faz a sua viagem derradeira, no retorno à casa do Pai.

Quantas vezes ele esteve conosco nos rachas e torneios do Cantinho Maluju! Inúmeras, incontáveis. Com seu jeito bem peculiar de ser, mostrava-se talentoso e estiloso no jeito de tratar a bola. Não costumava correr atrás dela. Ela, sim, é que sempre o procurava. E dele recebia o tratamento de que se fazia merecedora.

Quantas vezes chegou até nós de surpresa, sem que o esperássemos! Era assim mesmo: imprevisível.

Quantas vezes retornou comigo, de carona, a conversa espichada, descompromissada, espontânea. Sempre falava de seus muitos relacionamentos, do que ocorria em seu mundinho particular, ao que acrescentava, aqui acolá, os seus sonhos... e todos nós sonhamos. Afinal, o que seria de nós sem nossos sonhos?

Permito-me aqui contar um “causo” em que ele atuou como personagem principal.

O campeonato baturiteense de futebol, em um ano qualquer de um passado não distante, mal se iniciara, e as equipes já procuravam apresentar “novidades”, na expectativa de sempre melhorar seus desempenhos na competição e, por consequência, estimular seus torcedores à participação mais efetiva.

A tabela previa pr’aquele domingo o confronto entre o Putiú, mandante do jogo, e o Bananeiras, localidade lá no sopé da serra, lá pras bandas das nascentes do rio dos camarões, onde o usual meio de transporte era o lombo de animais: cavalos, burros, jumentos, todos bem aparelhados.

O time e a torcida chegaram cedo no antigo campo da Feira do Gado que, tendo passado por up grade, já adquirira uma “cara” de estádio. Alguém anunciou que uma novidade seria apresentada ao público, tão logo os contendores adentrassem o campo de jogo.

Criou-se, então, uma expectativa em todos os envolvidos no evento – dirigentes, jogadores, árbitros, torcida. O que o Bananeiras tinha de “novo” a mostrar?

Antes de tirar o toss (sorteio), o árbitro exigiu que o time visitante completasse a sua escalação. E o “capitão” da equipe fez um sinal para o seu treinador, perfilado à margem do campo. É dada a ordem para que a “novidade” se materializasse. E a expectativa (de todos) vai ao clímax.

E todos rimos... e aplaudimos... e fizemos a justa gozação.

Vestido com o uniforme do Bananeiras, de meiões e chuteiras, surge do meio da sua barulhenta torcida, sob aplausos e o pipocar de fogos, ele, o Neto, o bom Baiano, bem acomodado sobre a sela de um belo exemplar de jegue.

Ladeado por dois dirigentes, em suas montarias bem cuidadas, seguiu até o meio do campo. Às costas, o número oito indicava a posição em que ele costumava atuar: meia de criação.

E o Neto, o bom Baiano, era a “novidade” do bom time do Bananeiras. Não me recordo qual foi o placar do jogo; mas ele fez a festa e foi, naquele jogo, o centro das atenções. 

A ele, que também esteve no meio de nós, o adeus (A Deus!) de um amigo.

Descanse em paz!


Notas do autor:

Segundo o Ari Pereira, o ano era 1983; ele acrescentou: “O Putiú sagrou-se campeão”.

José Antônio da Costa Neto era um dos sobrinhos do seu Antônio Pereira (ou Guariba) e, por extensão, um dos primos do Antônio Filho (o Caxangá), Álcimo, Ari e Ayres, irmãos que defenderam alguns times do bairro Putiú e entorno.

Texto publicado no Facebook em 20.4.2018.


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